Cientistas mapeiam mais de 16 mil pegadas no maior campo de rastros de dinossauros já registrado

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Publicado em 06/12/25 às 16:20

Paleontólogos identificaram 16.600 pegadas fossilizadas de dinossauros carnívoros no sítio Carreras Pampa, em Torotoro, na Bolívia, o que torna a área o mais extenso conjunto de trilhas de terópodes já registrado no mundo. A análise dos vestígios sugere que o local funcionava como uma rota de passagem frequente desses animais entre 101 e 66 milhões de anos atrás, durante o período Cretáceo.

As pegadas estão preservadas no que antes era lama macia e profunda. Linhas de fio ajudam os pesquisadores a marcar a qual trilha pertencem cada tipo de pegada. / Imagem: Raúl Esperante

Essa é a primeira análise científica sistemática da área, que cobre aproximadamente 7.485 metros quadrados. Algumas pegadas aparecem de forma isolada, mas muitas delas compõem trilhas completas, indicando o deslocamento contínuo dos animais.

Em toda a superfície da rocha naquele local, há pegadas de dinossauros, afirmou um dos autores do estudo, Dr. Jeremy McLarty, professor de biologia e diretor do Museu de Ciência dos Dinossauros da Southwestern Adventist University, no Texas.

A maioria das trilhas segue em direção norte-noroeste ou sudeste. Essa orientação recorrente sugere que os dinossauros utilizaram o local como uma via natural, provavelmente parte de uma rota migratória ou de caça mais extensa, que poderia ter se estendido pelos territórios onde hoje estão a Bolívia, Argentina e Peru.

As diferentes formas, profundidades e espaçamentos das pegadas revelaram comportamentos variados: alguns animais caminhavam lentamente, enquanto outros corriam pela lama, e muitos deixaram rastros enquanto nadavam em águas rasas. Marcas de cauda arrastada também foram observadas em algumas trilhas.

As dimensões das pegadas indicam uma ampla variação de tamanho entre os dinossauros, com alturas de quadril que iam de cerca de 65 centímetros até mais de 1,25 metro. Isso pode refletir a presença de múltiplas espécies ou diferentes faixas etárias dos mesmos animais.

Desde os anos 1980 já se sabia da presença de rastros em Carreras Pampa, mas apenas agora se revelou a verdadeira escala e riqueza do local. A pesquisa levanta novas questões: por que há uma predominância quase exclusiva de terópodes? Onde estão os rastros dos herbívoros de grande porte, como os saurópodes?

Outros sítios de pegadas ao redor do mundo, como Cal Orck’o em Sucre, também na Bolívia, registram rastros de dinossauros, mas a densidade e o detalhamento comportamental presentes em Carreras Pampa são excepcionais. Esses registros não apenas mostram que dinossauros estiveram ali — eles revelam o que esses animais faziam, como se movimentavam, nadavam, escorregavam ou andavam em grupo.

Um esqueleto mostra o que um dinossauro poderia fazer; as pegadas mostram o que ele realmente fez, momento a momento, observou um paleontólogo.

As pegadas, ao contrário dos ossos, não se movem. Elas permanecem onde foram feitas, fixando no tempo o exato local por onde passaram os dinossauros. Estar em Carreras Pampa hoje é, portanto, mais do que visitar um sítio arqueológico — é pisar no mesmo solo em que dinossauros caminharam há milhões de anos.

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