Anquilossauro jurássico surpreende com armadura jamais vista em qualquer vertebrado

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Publicado em 31/08/25 às 07:15

Um dos dinossauros mais peculiares já descritos pela ciência acaba de ganhar um novo capítulo em sua história. Pesquisadores anunciaram a descoberta de fósseis inéditos de Spicomellus afer, considerado o mais antigo membro conhecido do grupo dos anquilossauros — dinossauros famosos por suas armaduras ósseas e caudas em forma de clava.

Os achados surpreenderam a comunidade científica: o animal possuía espinhos enormes, alguns chegando a quase um metro de comprimento, diretamente fundidos às costelas. Essa característica, segundo os especialistas, não é observada em nenhum outro dinossauro conhecido — e sequer em qualquer outro vertebrado, vivo ou extinto.

A armadura de Spicomellus não se parece com a de nenhum outro anquilossauro”, afirmou a paleontóloga Susannah Maidment, pesquisadora sênior do Museu de História Natural de Londres. Enquanto a maioria dos anquilossauros exibia colares ósseos em torno do pescoço, geralmente achatados ou em placas piramidais, o Spicomellus apresentava quatro espinhos de aproximadamente um metro, ligados a uma robusta faixa óssea cervical.

Com espinhos como esses, você não pode deixar de se perguntar: como esses dinossauros se acasalavam?

Os fósseis, datados de cerca de 165 milhões de anos (período Jurássico Médio), foram encontrados na região de Boulemane, no Marrocos. Até então, a espécie era conhecida apenas por um fragmento de costela descrito em 2021, quando foi identificada como o primeiro anquilossauro do continente africano. Agora, com os novos restos, ficou evidente que sua anatomia era ainda mais singular do que se imaginava.

Além dos espinhos no pescoço, os pesquisadores observaram que todas as costelas do dinossauro eram cobertas por osteodermas pontiagudos, lembrando “alfinetes saindo de uma almofada”.

Reprodução artística do Spicomellus afer / Imagem: Reprodução

Embora os espinhos pareçam uma poderosa arma defensiva, os cientistas levantam outra hipótese: eles poderiam ter tido uma função de exibição, possivelmente em disputas entre machos ou na atração de parceiras — de modo semelhante à cauda colorida dos pavões ou aos chifres dos cervos atuais.

Encontramos dentes de grandes terópodes na mesma região, o que indica a presença de predadores. Mas acreditamos que os espinhos exagerados do Spicomellus talvez fossem menos para intimidar inimigos e mais para impressionar rivais ou parceiras, explicou Maidment.

O estudo, publicado na revista Nature, também levanta questões sobre a evolução dos anquilossauros. Para o coautor Richard Butler, da Universidade de Birmingham, o achado contraria o padrão esperado: normalmente, os primeiros representantes de um grupo animal apresentam formas mais simples, enquanto adaptações mais elaboradas surgem em estágios posteriores da evolução.

É extremamente incomum que o membro mais antigo de um grupo — que sobreviveu por mais de 100 milhões de anos — exiba as características mais extremas já observadas, disse Butler.

A descoberta sugere que o Spicomellus afer pode ser uma exceção isolada ou então uma peça-chave para repensar toda a história evolutiva dos anquilossauros. De qualquer forma, o animal já ocupa lugar entre os dinossauros mais enigmáticos conhecidos, desafiando o entendimento atual sobre a diversidade e as estratégias de sobrevivência desses gigantes pré-históricos.

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