Dentes de dinossauros revelam como era o clima da Terra há mais de 100 milhões de anos
Por sandro
Publicado em 10/08/25 às 06:54
Uma equipe internacional de pesquisadores conseguiu reconstruir a composição da atmosfera que os dinossauros respiraram, utilizando dentes fossilizados que datam dos períodos Jurássico e Cretáceo. O estudo, liderado pela geoquímica Dingsu Feng, da Universidade Georg August de Göttingen, na Alemanha, analisou isótopos de oxigênio presentes no esmalte dentário para estimar os níveis de dióxido de carbono (CO₂) no ar durante o Mesozóico. A técnica se baseia na detecção do isótopo oxigênio-17, incorporado ao organismo durante a respiração e preservado nos dentes por milhões de anos, fornecendo informações precisas sobre o clima da época.
Segundo o paleontólogo e geoquímico Thomas Tütken, da Universidade Johannes Gutenberg, também na Alemanha, essa abordagem oferece um elo direto entre vertebrados terrestres e a atmosfera que respiravam. Os resultados mostram que, no final do Jurássico, os níveis de CO₂ chegavam a cerca de 1.200 partes por milhão (ppm), aproximadamente quatro vezes mais do que os valores pré-industriais, enquanto no final do Cretáceo estavam em torno de 750 ppm. Em comparação, a atmosfera atual apresenta cerca de 430 ppm, e esse número continua aumentando.
Os dados sugerem que, durante o Mesozóico, as elevadas concentrações de CO₂ eram alimentadas por intensa atividade vulcânica. Dois dentes analisados, pertencentes a um Tiranossauro rex e a um saurópode (Kaatedocus siberi), apresentaram anomalias isotópicas significativas, indicando picos repentinos de CO₂ possivelmente relacionados a erupções vulcânicas de grandes fluxos de basalto. Essas flutuações, de até 160% em períodos geológicos curtos, reforçam a ideia de que eventos vulcânicos tiveram papel determinante nas mudanças climáticas pré-históricas.
Além disso, os pesquisadores constataram que a produtividade vegetal global (GPP) durante o Mesozóico era de 20% a 120% maior do que a atual, o que indica ecossistemas mais densos e um ciclo de carbono acelerado. Com a eficácia do método comprovada, a equipe pretende agora aplicá-lo a fósseis do período da “Grande Morte” — a extinção em massa ocorrida há 252 milhões de anos, no limite Permiano-Triássico, que eliminou a maior parte das espécies do planeta. O objetivo é entender como a atmosfera reagiu a esse evento extremo e quais impactos teve sobre a vida terrestre.
O estudo, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), inaugura uma nova etapa na paleoclimatologia, permitindo a reconstrução de climas antigos com base em fósseis de animais terrestres e abrindo caminho para novas investigações sobre a relação entre a atmosfera e grandes eventos geológicos do passado.