Dinossauros brasileiros e mongóis desenvolveram adaptações semelhantes para sobreviver em desertos antigos, revela estudo da USP

Por

Publicado em 22/06/25 às 06:51

Cientistas da Universidade de São Paulo (USP), no campus de Ribeirão Preto, descobriram um raro caso de evolução convergente ao analisarem fósseis de dinossauros que viveram em desertos distantes no mesmo período de tempo. A pesquisa revela que espécies que habitaram a região onde hoje está o Deserto de Gobi, na Mongólia, há cerca de 66 milhões de anos, apresentavam adaptações anatômicas muito semelhantes às dos dinossauros que viveram no oeste do Paraná, no Brasil, há 125 milhões de anos.

Ambas as regiões, em épocas distintas, foram desertos extremamente hostis, com pouca vegetação e escassez de fontes de alimento. Nessas condições, os dinossauros precisaram desenvolver soluções evolutivas para garantir sua sobrevivência. Segundo o estudo, publicado recentemente, essas espécies passaram a ter crânios altos e achatados, além de mandíbulas robustas e um osso dentário proeminente, características que facilitaram a alimentação em ambientes áridos, onde predominavam plantas xerófitas — vegetação espinhosa, de folhas espessas e sementes duras.

Artes conceituais do brasileiro Berthasaura leopoldinae (esquerda) e o Limusaurus inextricabilis (direita), que possuem evolução convergente. /Imagem: Maurilio Oliveira / Yu Chen.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores da USP analisaram dezenas de amostras de fósseis provenientes de diversas partes do mundo. No total, foram mapeados pontos de referência em 65 maxilares e 52 ossos dentários de dinossauros terópodes, tanto carnívoros quanto herbívoros. O estudo demonstrou que a robustez da mandíbula em algumas espécies era ideal para quebrar estruturas vegetais duras, uma adaptação essencial diante da escassez de alimentos mais fáceis de consumir.

Além de reforçar a teoria da evolução convergente — quando espécies sem qualquer grau de parentesco desenvolvem traços semelhantes ao enfrentar desafios ambientais parecidos —, a descoberta também fornece mais evidências sobre como era o ambiente do antigo deserto que formou o arenito Caiuá, no Paraná. Essa formação geológica marca o início da sedimentação da Bacia Bauru, que apesar das condições áridas no passado, abrigou uma biodiversidade surpreendente.

Deserto de Gobi, na Mongólia / Imagem: Reprodução

Outro achado relevante citado pelos pesquisadores é a descoberta de pegadas de dinossauros ornitísquios na cidade de General Salgado, interior de São Paulo, divulgada em dezembro de 2024 na revista científica Cretaceous Research. As pegadas foram encontradas nas margens de uma antiga lagoa, um verdadeiro oásis em meio ao deserto, e indicam que diversos animais frequentavam esse ponto de água durante períodos de seca, oferecendo pistas valiosas sobre o comportamento e a ecologia desses animais.

O estudo também trouxe à tona outro exemplo de evolução convergente pouco discutido. A espécie brasileira Berthasaura leopoldinae, por exemplo, provavelmente perdia os dentes à medida que envelhecia, tornando-se um adulto desdentado — uma característica que também foi observada na espécie chinesa Limusaurus inextricabilis. Esse fenômeno demonstra como, mesmo separados por milhões de anos e milhares de quilômetros, os dinossauros encontraram caminhos evolutivos semelhantes para lidar com os desafios impostos pela natureza.

Ver Comentários