Fóssil de formiga mais antigo do mundo é encontrado no nordeste do Brasil e revoluciona a ciência

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Publicado em 24/04/25 às 17:19

Um fóssil excepcionalmente preservado, datado de cerca de 113 milhões de anos, está causando alvoroço no meio científico ao lançar nova luz sobre a evolução das formigas. Descoberto na Formação Crato, no nordeste do Brasil, o espécime pertence a um gênero inédito da subfamília extinta Haidomyrmecinae, conhecidas como as temidas “formigas do inferno”.

A descoberta, agora publicada na prestigiada revista científica Current Biology, representa a primeira evidência deste grupo no supercontinente Gondwana, mudando significativamente o entendimento atual sobre a distribuição geográfica das formigas primitivas.

Fóssil da Vulcanidris cratensis / Imagem: Anderson Lepeco

A Formação Crato, localizada na Bacia do Araripe, é reconhecida mundialmente por sua impressionante preservação de fósseis. Foi nesse cenário que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) encontraram um pequeno exemplar de apenas 1,3 cm, surpreendentemente bem conservado. A equipe, liderada pelo entomologista Anderson Lepeco, conseguiu identificar características únicas no fóssil graças a técnicas avançadas de imagem 3D.

Nunca imaginei encontrar algo assim, declarou Lepeco.

Essa é a primeira evidência concreta de formigas na coleção da Formação Crato, e se trata de um exemplar extraordinariamente completo.

Mandíbulas como foices e chifre predatório

O fóssil apresenta uma das características mais marcantes das formigas do inferno: mandíbulas voltadas para frente e curvadas como foices. Um chifre projetado da cabeça completa o conjunto anatômico, sugerindo adaptações para a caça de presas. Esse tipo de estrutura é tão incomum que não encontra paralelo entre os insetos modernos.

Há hipóteses de que as mandíbulas também pudessem servir para transportar líquidos, mas a explicação mais aceita aponta para uma função predatória sofisticada.

Desaparecimento antes dos dinossauros

Curiosamente, as formigas do inferno desapareceram do registro fóssil cerca de 78 milhões de anos atrás, muito antes do impacto que exterminou os dinossauros. Para especialistas como o entomologista Marek Borowiec, da Universidade Estadual do Colorado, a extinção pode ter relação com a alta especialização ecológica do grupo.

Se essas formigas dependiam de presas muito específicas, qualquer mudança no ecossistema teria sido desastrosa, explicou Borowiec, que não participou do estudo.

Até esta descoberta, os registros mais antigos de Haidomyrmecinae estavam limitados ao hemisfério norte — com fósseis encontrados no Mianmar, Canadá e França. A nova evidência no Brasil mostra que essas formigas estavam mais amplamente distribuídas do que se pensava, o que leva os cientistas a reavaliar a trajetória evolutiva do grupo.

A presença delas no sul é uma revelação extraordinária, destacou Christine Sosiak, do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa.

Isso mostra que o mundo das formigas durante o Cretáceo era muito mais complexo do que imaginávamos.

A descoberta não apenas reescreve capítulos da história das formigas, mas também oferece uma janela para o ecossistema da era dos dinossauros. Insetos como as formigas do inferno, com suas adaptações predatórias únicas, desempenhavam papéis ecológicos cruciais que ainda estão sendo desvendados.

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