Nova técnica de imagem revela tampa de magma sob Yellowstone

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Publicado em 20/04/25 às 07:24

Pesquisadores das universidades Rice, Novo México, Utah e Texas em Dallas acabam de lançar uma descoberta surpreendente sobre o sistema vulcânico de Yellowstone: a identificação de uma camada rica em gases, composta por magma parcialmente fundido, a apenas 3,8 quilômetros da superfície. Essa “tampa” atua como uma válvula natural, liberando lentamente gases e diminuindo significativamente o risco de uma erupção catastrófica.

Publicada na revista científica Nature, a pesquisa se destaca não apenas pelas suas implicações vulcanológicas, mas também pelo avanço tecnológico nos métodos de imagem sísmica do subsolo. A descoberta foi liderada pelos geofísicos Chenglong Duan e Brandon Schmandt, da Universidade Rice, com apoio da Fundação Nacional de Ciências dos EUA (NSF).

A caldeira de Yellowstone, conhecida por seus gêiseres espetaculares e poços de lama borbulhantes, é um dos sistemas vulcânicos mais monitorados do planeta. Ainda assim, havia incertezas sobre a profundidade e estrutura de sua câmara magmática superior. A nova pesquisa muda esse panorama com clareza inédita.

Sabíamos há décadas da presença de magma, mas a estrutura exata da sua parte superior sempre foi um enigma, explica Schmandt.

Agora conseguimos identificar uma fronteira nítida a 3,8 km de profundidade, composta por rochas porosas misturadas com bolhas de gás e fusão silicatada.

yellowstone

Imagens sísmicas e criatividade científica

Para mapear a estrutura interna, os cientistas utilizaram um caminhão vibroseis de 24 toneladas, semelhante aos usados em prospecções de petróleo. Essa técnica gera microtremores que se propagam no subsolo e são refletidos de volta, permitindo a criação de imagens detalhadas das camadas internas da Terra.

Mas o desafio foi grande: em meio à pandemia da COVID-19, a equipe operou durante as madrugadas em áreas restritas do parque nacional, utilizando mais de 600 sismômetros. O processamento dos dados foi igualmente árduo, já que a geologia complexa de Yellowstone dificultava a leitura dos sinais.

Os dados crus eram quase indecifráveis no início, relembra Duan.

Tivemos que adaptar técnicas de processamento e inovar para revelar os reflexos sísmicos ocultos.

Um sistema que respira

A descoberta do tampão magmático trouxe alívio à comunidade científica. Apesar de conter bolhas e gases como vapor d’água e dióxido de carbono, o sistema parece estar funcionando como um “suspiro geológico”, liberando pressão de forma controlada por meio de microfissuras.

É como se o sistema estivesse respirando — liberando gás de maneira contínua, o que reduz a probabilidade de uma erupção, compara Schmandt.

yellowstone vulcão

Aplicações além do vulcão

Mais do que um avanço para a vigilância de vulcões, o estudo representa um marco nas técnicas de imagem do subsolo. A metodologia pode ser aplicada em áreas como armazenamento de carbono, exploração de energia geotérmica e avaliação de riscos naturais.

Ver o que acontece debaixo dos nossos pés é essencial, afirma Schmandt.

Essa pesquisa mostra que, com criatividade e persistência, conseguimos interpretar até os dados mais complexos.

A partir de agora, os cientistas poderão usar esse novo “marco zero” para monitorar possíveis mudanças no conteúdo de fusão ou na pressão dos gases, o que pode funcionar como um sistema de alerta precoce em Yellowstone.

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