Impacto duplo? Cratera no Atlântico revela que extinção dos dinossauros pode ter sido causada por dois asteroides
Por sandro
Publicado em 06/10/24 às 09:38
Há cerca de 66 milhões de anos, um imenso asteroide colidiu com a Terra, marcando o fim da era dos dinossauros e criando a famosa Cratera de Chicxulub, no atual México. Esse evento cataclísmico, responsável pela extinção em massa de grande parte da vida no planeta, foi um marco na história geológica. No entanto, novas evidências sugerem que Chicxulub pode não ter agido sozinho. Pesquisas recentes revelaram que outro asteroide menor também atingiu o planeta nesse mesmo período, deixando um segundo marco de destruição: a Cratera de Nadir, escondida sob o Atlântico.
A Cratera de Nadir foi descoberta em 2022, localizada a cerca de 300 metros abaixo do fundo do oceano, próximo à costa de Guiné, na África Ocidental. Com um diâmetro de 9,2 quilômetros, ela remonta ao final do período Cretáceo, o mesmo em que Chicxulub devastou a Terra. Contudo, as circunstâncias exatas de como esse segundo impacto ocorreu permaneceram um mistério – até agora.
Graças a um novo estudo que utilizou dados sísmicos de alta resolução em 3D, os cientistas conseguiram determinar com precisão que a cratera foi, de fato, causada pelo impacto de um asteroide. “Esta é a primeira vez que uma estrutura de impacto foi totalmente mapeada com dados sísmicos de alta resolução como esses, e é um verdadeiro tesouro de informações para nos ajudar a reconstruir como essa cratera se formou e evoluiu,” explicou o Dr. Uisdean Nicholson, autor do estudo, em um post no blog da Springer Nature.
De acordo com Nicholson, existem cerca de 20 crateras confirmadas em ambientes marinhos no mundo, mas nenhuma delas foi capturada com o nível de detalhe alcançado no estudo da Cratera de Nadir. “É algo impressionante”, comentou em outro comunicado. Ele comparou o avanço tecnológico no mapeamento da cratera a uma ultrassonografia de gravidez. “Há algumas gerações, o ultrassom mostrava uma mancha granulada. Agora, é possível ver os traços do bebê em 3D, com detalhes incríveis – incluindo os órgãos internos. Passamos de uma imagem em 2D e desfocada para uma visualização de alta resolução da Cratera de Nadir.”
Essas imagens excepcionais permitiram aos cientistas ter uma compreensão mais clara do que ocorreu há 66 milhões de anos, quando o asteroide atingiu a Terra. Por exemplo, os pesquisadores descobriram que o asteroide era maior do que o estimado inicialmente, com cerca de 450 a 500 metros de diâmetro. Além disso, acreditam que o objeto veio de uma direção entre 20 e 40 graus a nordeste e atingiu o planeta a uma velocidade impressionante de 72.000 km/h – embora essa última hipótese ainda precise ser verificada por novos modelos de impacto.
A pesquisa também forneceu novas pistas sobre a sequência de eventos que se seguiram ao impacto. “Após o impacto e a formação da elevação central, os sedimentos moles ao redor da cratera fluíram para dentro da cavidade, criando uma borda visível. A vibração do terremoto causada pelo impacto parece ter liquefeito os sedimentos abaixo do fundo do mar em todo o planalto, causando a formação de falhas,” descreveu Nicholson.
Ele acrescentou que o impacto também provocou grandes deslizamentos de terra à medida que a margem do planalto desmoronou abaixo do oceano. Além disso, foram observadas evidências de uma série de ondas de tsunami que se afastaram e depois retornaram para a cratera, com grandes cicatrizes de ressurgência preservando as marcas desse evento catastrófico.
Embora os pesquisadores ainda não consigam datar com precisão o momento exato em que a Cratera de Nadir foi formada, eles estão empenhados em continuar o trabalho para tentar determinar quando, no final do Cretáceo, esse impacto ocorreu, e se ele tem uma conexão direta com o impacto de Chicxulub. Se os dois eventos forem realmente relacionados, isso pode indicar que a Terra foi atingida por múltiplos fragmentos de um mesmo corpo celeste, potencialmente ampliando a escala da devastação global.
Lições do passado para o presente
Nicholson destacou a importância dessa descoberta não apenas para entender melhor o que levou ao fim dos dinossauros, mas também para nos preparar para possíveis futuros impactos de asteroides. “Nunca houve um impacto desse tamanho na história humana, e aprender mais sobre ele pode ser revelador – não apenas para entender o que aconteceu com os dinossauros, mas também para compreender os impactos de asteroides em geral.”
Ele comparou o impacto da Cratera de Nadir com o evento de Tunguska, que ocorreu em 1908 na Sibéria e foi o mais próximo que a humanidade chegou de testemunhar algo similar, embora em uma escala muito menor. “Os novos dados sísmicos 3D da Cratera de Nadir representam uma oportunidade sem precedentes para testar hipóteses sobre crateras de impacto, desenvolver novos modelos de formação de crateras em ambientes marinhos e entender as consequências de um evento desse tipo,” concluiu Nicholson.
O estudo de Nicholson foi publicado na revista Communications Earth & Environment e promete abrir novas portas para o entendimento de um dos eventos mais significativos da história geológica do planeta. Com mais pesquisas e novos modelos, os cientistas esperam desvendar ainda mais mistérios sobre o impacto desses asteroides e as profundas mudanças que causaram na Terra.