Pesquisadores da Unipampa descobrem nova espécie de anfíbio gigante fossilizado

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Publicado em 27/01/24 às 06:47

Pesquisadores do Laboratório de Paleobiologia do Campus São Gabriel da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) revelaram uma descoberta fascinante: a identificação de uma nova espécie de anfíbio gigante fossilizado no Rio Grande do Sul, denominada Kwatisuchus rosai. Esta espécie antecede os dinossauros, remontando a cerca de 250 milhões de anos, sobrevivendo após a maior extinção em massa da história, que ocorreu durante as mudanças ambientais relacionadas à formação do supercontinente Pangeia, entre os períodos geológicos permiano e triássico.

A Descoberta:
A equipe de pesquisa encontrou o fóssil, um crânio do animal, em agosto de 2022, durante uma coleta em rochas nas margens de um açude em Rosário do Sul, na Fronteira Oeste. Após meticulosa limpeza, preparação e identificação, os resultados foram publicados recentemente na revista científica especializada The Anatomical Record.

Fóssil da cabeça do Kwatisuchus rosai / Imagem: Felipe Pinheiro

Características do Kwatisuchus rosai:
Embora tenha dimensões gigantescas em comparação com seus parentes anfíbios atuais, como sapos e rãs, o Kwatisuchus rosai, com seus 1,5 metro de comprimento, é considerado de médio porte em comparação com os anfíbios gigantes da época, que poderiam atingir até 5 metros. Os pesquisadores afirmam que o animal era carnívoro e ocupava o papel biológico que hoje é desempenhado por jacarés e crocodilos.

Reprodução artística do Kwatisuchus rosai / Imagem: Márcio Castro

Classificação Biológica e Surpreendente Conexão com a Rússia:
O Kwatisuchus rosai pertence à ordem de anfíbios primitivos conhecidos como temnospôndilos e à família dos bentossuquídeos, uma subclassificação biológica anteriormente apenas encontrada na Rússia. O pesquisador Voltaire Paes Neto destacou a surpreendente semelhança entre o fóssil brasileiro e as espécies russas, considerando a distância geográfica significativa.

Não se esperava que fosse tão parecido com um bicho que vivia na Rússia, que por mais que estivesse em um supercontinente ainda é bem longe, disse Voltaire.

Nome da Espécie e Homenagem:
A escolha do nome Kwatisuchus rosai é uma homenagem ao termo “kwati”, em tupi, que significa focinho comprido, devido à cabeça afilada do animal, semelhante à dos crocodilos. Além disso, o nome faz referência ao paleontólogo Átila Stock Da-Rosa, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pioneiro na exploração de sítios fossilíferos na região.

Conexões Inesperadas e Desafios da Sobrevivência:
A descoberta desafia as expectativas ao conectar espécies semelhantes encontradas na África do Sul e na Rússia com o Brasil. Os pesquisadores exploram como esses anfíbios migraram através de desertos e montanhas, superando desafios geográficos para chegar ao território brasileiro, onde dependiam de água doce para sobreviver. A Unipampa está atualmente envolvida em estudos para entender melhor essa migração.

Relevância da Descoberta:
O Kwatisuchus rosai viveu em um período pós-extinção em massa, caracterizado por temperaturas extremas durante a formação da Pangeia. A descoberta é crucial para compreender a sobrevivência da biodiversidade em momentos de extinção em massa, fornecendo insights valiosos para os desafios contemporâneos de conservação e mudanças climáticas.

Parceria Internacional com Harvard:
O estudo foi financiado pela Fundação Lemann, que promove parcerias entre instituições brasileiras e a Universidade de Harvard. A colaboração tem como objetivo explorar o registro fóssil brasileiro para compreender a maior extinção em massa da história do planeta. A equipe já apresentou outros achados notáveis, incluindo o crânio do Pampaphoneus biccai, o maior predador brasileiro anterior aos dinossauros.

Grupo de pesquisadores da Unipampa / Imagem: Alice Dias

A descoberta do Kwatisuchus rosai representa um marco significativo na paleontologia brasileira, revelando novas informações sobre a diversidade da vida pré-histórica no país. Além disso, a colaboração internacional destaca a importância de parcerias na pesquisa científica para desvendar os mistérios do passado e compreender melhor o presente e o futuro da biodiversidade global.

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